Ao apresentar a palestra “formação do Caráter Nacional: a corrupção sob o enfoque histórico, filosófico e humanista”, na tarde da última quarta-feira (04), o teólogo e professor universitário Leonardo Boff escreveu seu nome na história, não somente dos eventos promovidos pelos Tribunais de Contas, mas da própria reflexão do controle externo brasileiro.
Pensador de reconhecimento internacional, Leonardo Boff capturou as atenções de uma plateia formada em sua maioria por conselheiros, procuradores e auditores, além de assessores de comunicação dos TCs, ao dissecar o problema da corrupção como fenômeno epidêmico nos tempos modernos.
De acordo com o escritor, a corrupção precisa deixar de ser encarada como um fenômeno que se expressa em casos isolados para ser vista como um dado entranhado na cultura contemporânea. Para Boff, o principal estímulo à corrupção é a própria mentalidade capitalista, ao incentivar a competição e a acumulação de riquezas a qualquer custo.
Com a erudição de sempre, Boff lembrou que etimologicamente, o termo corrupção pertence ao pensamento cristão, significando “coração rompido” (do latim cuore ruptus), chamando a atenção para a importância da conduta individual na transformação de uma cultura da corrupção por uma cultura da retidão e do justo.
Para ele, a luta contra a corrupção não pode ter sucesso se for separada a conduta na esfera pública do comportamento e do compromisso de cada um. Boff exaltou diversas vezes o papel das cortes de contas do país, e de seus integrantes na condição de homens públicos, na transformação do quadro atual na esfera pública do país.
Munido de dados estatísticos, Leonardo Boff surpreendeu ao comparar o número de auditores de contas por número de habitantes no Brasil e nos Estados Unidos, propondo de forma veemente a multiplicação do quadro de auditores no país. “Nos EUA, as famílias querem um filho médico, um advogado e outro auditor, tal é o apreço pela atividade naquele país”, lembrou o escritor.
Aplaudido de pé ao final de sua palestra, saudado pelo anfitrião, o presidente do TCE-ES, conselheiro Sebastião Carlos Ranna ( um nome ecológico, segundo o palestrante, pois Ranna é rã em italiano), Leonardo Boff ainda autografou seus livros no espaço literário do evento para dezenas de admiradores.