Depois da icônica Maria Firmina dos Reis, outra maranhense à frente de seu tempo ganhou o reconhecimento por parte do Tribunal de Contas do Estado (TCE-MA). Inaugurada no ano passado durante o lançamento do projeto “TCE Cultural”, a galeria de arte da instituição recebeu, nesta segunda-feira (25), o nome da pintora maranhense Amina Paula Barros, a primeira maranhense a assumir profissionalmente a carreira de artista plástica.
Destaque da programação cultural da I Jornada Maranhense de Controle Externo, que se realiza desta segunda até o próximo dia 29, a inauguração contou com representantes de várias gerações de familiares da homenageada, entre os quais a filha Francinete Paula Barros, que aos 101 anos, foi escolhida para descerrar a placa comemorativa, ao lado do presidente do TCE, conselheiro Washington de Oliveira.
A ocasião foi marcada também por uma exposição de pinturas produzidas exclusivamente por pintoras maranhense, reforçando a proposta de estímulo ao protagonismo feminino. Compareceram com suas obras as artistas Marlene Barros, Rosilan Garrido, Raimunda Fortes, Clara Vidotti, Kels Cilene, Christian, Gabriela Moreira, M. Paula Barros e Aretha Ramos.
Lançado no final do ano passado para fomentar o interesse pela arte e cultura no ambiente da corte de contas maranhense, o projeto “TCE Cultural” deu, com a iniciativa, mais um passo para sua consolidação no cenário cultural. “Esperamos, por meio de ações como essa, contribuir de forma efetiva para a compreensão da cultura como fator de humanização e inclusão social”, observa o coordenador do projeto, Claudio Pinheiro.
Segundo ele, a ação de hoje reafirma o objetivo principal do “TCE Cultural”, que é a implementação de um projeto amplo de valorização dos talentos da casa e reforçar os canais de diálogo com a sociedade por meio da cultura. “Um projeto cultural em um órgão que não é voltado para a execução de projetos culturais não se choca com a missão do órgão, mas amplia a sua visão, o que para nós é uma marca de gestão”, analisa.
“Recebemos com muita honra, alegria e gratidão eterna essa iniciativa do Tribunal, que valorizou a figura feminina na pessoa de minha avó, Amina Paula Barros, uma precursora da arte e da cultura no Maranhão. Acreditamos que a recuperação desse exemplo serve como incentivo às mulheres no sentido da iniciativa e do espírito empreendedor”, avaliou a neta da homenageada, Maria de Lourdes Almeida.
Para o presidente do TCE, Washington de Oliveira, iniciativas na área da cultura, seja valorizando talentos locais, seja apostando na recuperação da memória cultural e artística, tem o potencial de tornar a instituição mais rica e consciente da riqueza da comunidade na qual está inserido e à qual se destina seu trabalho. “A cultura tem o poder de tornar mais forte nosso sentimento de pertencer a uma terra, a um povo em toda sua singularidade. Para nós é uma grande alegria estar aqui hoje participando de uma justa homenagem a essa mulher pioneira”, afirma.
Uma vida dedicada às artes:
“A figura de Amina Paula Barros é a síntese de talento artístico e protagonismo feminino”
O técnico em controle externo do TCE e professor João Carlos Pimentel Cantanhede apresentou na manhã de hoje, 25, como parte da I Jornada de Controle Externo do TCE, o painel “Amina Paula Barros e a Escola de Belas Artes do Maranhão”.
Na exposição, exposição Pimentel apresentou detalhes da vida e da obra dessa importante artista maranhense, pioneira e protagonista de um momento histórico marcado por um cenário artístico dinâmico e inovador, cujo legado e memória são objeto de estudo do pesquisador maranhense.
Confira na entrevista a seguir um pouco mais sobre a importância de Amina Paula Barros no cenário artístico nacional e maranhense.
Qual a importância de se resgatar o papel exercido por Amina Paula Barros no cenário artístico nacional e maranhense?
Estamos em um momento de valorização do protagonismo feminino, e figuras do passado como Amina Paula Barros são significativas para entendermos como esse protagonismo se deu em outros tempos e em condições adversas.
De que maneira a Escola de Belas Artes do Maranhão impulsionou o desenvolvimento das manifestações artísticas em nosso Estado?
Pela implantação de novos métodos de ensino das artes; por oportunizar um espaço de formação artística em um momento que havia uma lacuna de produção e ensino artístico de qualidade no Maranhão; e por formar uma geração de novos artistas!
Como a obra de Amina de Paula Barros dialoga com as produções nacionais de seu campo artístico?
A sua produção artística sofreu influência da sua aprendizagem com José de Paula Barros e possuía as temáticas voltadas para o retrato, a natureza-morta e as paisagens. Tal produção se afirma na necessidade que ela tinha de produzir obras bem aceitas pelo mercado consumidor da época, visto que ela era viúva e tinha quatro filhas pequenas para criar.
Amina Paula Barros alcançou relevância num cenário artístico que era predominantemente masculino. Como se deu esse processo e quais os frutos desse pioneirismo?
Sim. Ela conseguiu isso assumindo a sua condição de artista e tendo a sua produção reconhecida e valorizada em um meio dominado por homens. Também criou sua própria escola de artes e manteve por certo tempo um estabelecimento comercial especializado em materiais artísticos.