A Inteligência Artificial é apenas uma ferramenta neutra cuja utilização depende somente da vontade de cada um? Ou estamos vivendo o maior furacão tecnológico que já atingiu a espécie, capaz de alterar a própria subjetividade do ser humano contemporâneo? A quem interessa uma visão da aparente neutralidade e placidez de recursos tão poderosos a ponto de competir com a mente humana?
Desafiando o silêncio reinante em torno dessas questões, a biblioteca do TCE promoveu uma edição especial do programa Conversa com Escritores. Para conversar sobre o tema “Literatura e IA”, estiveram no TCE, na última quarta-feira (12), o poeta e professor do curso de Filosofia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Luís Inácio Oliveira, e o advogado, poeta e escritor Adonay Moreira.
Sem a pretensão de esgotar assunto de tão vastas implicações, os dois intelectuais abordaram aspectos cruciais da questão. Foram mais de duas horas de conversa em que os dois também tentaram responder às inquietações da plateia. Sem necessariamente fechar questão em torno do tema, os dois concordaram em um ponto: até o momento pelo menos, a IA não reúne condições de dar conta de aspectos que são inerentes à criação literária, o toque pessoal e intransferível que somente a criação humana pode prover.
Por outro lado, a neutralidade da ferramenta também foi posta em questão, tendo em vista os interesses políticos e econômicos das chamadas Big Techs, empresas de tecnologia por trás das ferramentas de IA. “Entre os grandes desafios apresentados pelo mundo moderno, encontra-se, sem dúvida alguma, a relação entre a tecnologia e a arte. Por isso, debater sobre a literatura e a IA é fundamental, pois nos permite entender melhor o fenômeno que estamos vivendo e quais as possíveis consequências positivas ou negativas dele”, observou o ensaísta Adonay Moreira.
Para o escritor, que acaba de publicar o livro “Albert Camus – uma reflexão sobre a justiça” (Ed. UEMA), “o TCE-MA está de parabéns ao acolher esse belo projeto, que permite criar, na correria do cotidiano, um oásis no qual o pensamento e a cultura são os grandes protagonistas, de modo que participar do Encontro com Escritores é sempre uma experiência estimulante, que muito me honra e alegra”.
Já o poeta e professor Luís Inácio considera de grande importância ter espaços para conversas e discussões sobre literatura e poesia. “Sempre acho que a literatura, no seu sentido mais amplo, pode abrir nosso horizonte, mexer conosco e provocar pequenos grandes deslocamentos. Achei também muito importante a ideia de discutir um tema que nos atinge a todos, o das mudanças tecnológicas pelas quais estamos passando, mudanças que afetam sensivelmente todas as esferas de nossa vida. Considero que precisamos nos questionar sobre as implicações do uso da IA. Não se trata de uma resistência ingênua a inovações tecnológicas, mas de reconhecer os seus limites”, ponderou.
O poeta alerta para o fato de que o uso da IA não pode nos fazer abrir mão de experiências que até hoje fizeram parte de um território propriamente humano, “como é o caso desse território vasto e fecundo da experiência da criação artística e poética. Se abrirmos mão disso, estaremos perdidos”, observa.


